O Céu e o Inferno é uma obra de Doutrina Espírita que realiza um exame comparado das crenças sobre a vida futura, as penalidades e recompensas, a natureza dos anjos e demônios. O objetivo principal é estabelecer a justiça de Deus em conformidade com o Espiritismo, demonstrando que o estado da alma após a morte é uma realidade observável, e não apenas uma hipótese.

O livro é dividido em duas partes: Doutrina e Exemplos.

I. Doutrina: Reinterpretação do Futuro

  • O Destino da Alma: A felicidade ou infelicidade do Espírito é inerente ao seu grau de pureza ou impureza. A completa felicidade prende-se à perfeição.
  • A Morte: O Espiritismo remove o temor da morte, pois a vida futura deixa de ser uma hipótese para ser uma realidade. A morte é vista como a libertação do Espírito. O sofrimento no momento da morte está ligado à força de adesão entre o corpo e o perispírito; a desmaterialização prévia do Espírito torna a passagem menos penosa.
  • Céu e Inferno: O Espiritismo resolve a questão sobre o destino final, demonstrando que o Céu e o Inferno tradicionais são em grande parte alegorias.
    • Inferno e Penas Eternas: A razão e o bom senso repelem a ideia de penas eternas e do inferno material com fogo, demônios e torturas corporais, que são imitações do inferno pagão. A penalidade, na verdade, é temporária e proporcional à culpa. O sofrimento real é de ordem moral.
    • Purgatório: O Purgatório não é negado; ao contrário, ele é definido como as provas da vida corporal (encarnação). O purgatório cessa com a purificação completa da alma. Os Espíritos imperfeitos são excluídos dos mundos felizes e ficam nos mundos inferiores (mundos de expiação), como a Terra, para purificarem-se.
  • Anjos e Demônios:
    • Anjos são Espíritos Puros que atingiram o grau de perfeição. Eles não são seres criados perfeitos, mas sim aqueles que progrediram e se aperfeiçoaram por esforço próprio.
    • Demônios são as almas dos homens perversos que ainda não se despojaram dos instintos materiais.

II. Exemplos (A Situação Real da Alma)

A segunda parte da obra apresenta comunicações de Espíritos de diversas categorias para ilustrar a situação real da alma:

  • Sofrimentos Morais: Os Espíritos maus, egoístas ou criminosos não são punidos por fogo material, mas por torturas morais. O criminoso sofre com a presença incessante de suas vítimas e das circunstâncias de seu crime. Espíritos egoístas são punidos pelo insulamento, abandono e desamparo.
  • Suicídio: O suicida, ao buscar o nada, pode sentir as angústias da decomposição do corpo, prolongadas pela duração da vida que ele abreviou.
  • Reconciliação e Progresso: O arrependimento, mesmo depois da morte, é o primeiro passo para o perdão. A caridade dos vivos para com os Espíritos sofredores é um dever de caridade que ajuda a abreviar-lhes os tormentos e a reconduzi-los ao bem.
  • Visão dos Justos: Para os Espíritos justos e desmaterializados, a morte é calma, esperançosa, e o desprendimento é gradual. Eles gozam de uma vida de movimento, atividade e missão, e não de contemplação inútil.